PrimeLife (Ano IX)

Viva Bem, Viva Mais, Viva com Estilo

Ensinem os filhos a falhar

R 005“… O processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.” – Jean-Pierre Lebrun

Nos últimos 30 anos, a ideia dos pais como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente. As consequências disso não são necessariamente ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das principais referências na Europa no estudo sobre mudanças nas relações entre pais e filhos. Mas, para tanto, é preciso aprender a negociar com os filhos mantendo a autoridade.

Por que os pais hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?
Jean-Pierre Lebrun: Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai, ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos. Hoje, a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E, na rede, não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pais. As dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos.

Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
Jean-Pierre Lebrun: É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pais sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles.

Falando concretamente, como é possível perceber essa diferença no comportamento das famílias hoje?
Jean-Pierre Lebrun: A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pais vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pais diante do professor. É uma completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em dia, normalmente são os pais que choram. A cena é comum. É como se esses pais tivessem continuado crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal.

Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?
Jean-Pierre Lebrun: Hoje os pais precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem decide são os pais.

Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o uso abusivo de drogas?
Jean-Pierre Lebrun: Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles. Vou dar um exemplo. Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação.

Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho autodestrutivo?
Jean-Pierre Lebrun: É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta. Somos os únicos capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente. Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais, como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.

Com que consequências?
Jean-Pierre Lebrun: Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma de se refugiar da dor humana, da insatisfação. As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai se apresentar. Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o trabalho de aprender a suportar a condição humana. Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma paixão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos traumática.

Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?
Jean-Pierre Lebrun: Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência espontânea a, quando se tornam adultos, ser novamente confrontados com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, por exemplo. Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.

Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?
Jean-Pierre Lebrun: Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da família. O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.

O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?
Jean-Pierre Lebrun: O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns vinte, 25 anos e está sujeito a percalços. Na Renascença já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.

21/11/2015 Posted by | Comportamento, Entrevistas, Psicologia | Deixe um comentário

Clóvis de Barros Filho

Durante uma entrevista que emocionou o Jô Soares e fez a plateia aplaudir de pé, Clóvis de Barros Filho, professor de ética na USP, conta como descobriu sua paixão profissional aos 13 anos de idade, em uma aula na escola. É incrível o amor dele e como Clóvis explica esse sentimento de realização quando fazemos o que amamos. Uma excelente lição de vida, que vale a pena ser vista.

15/10/2015 Posted by | Entrevistas, Motivação | Deixe um comentário

“O consumismo da elite é desespero”

Flávio GikovateFlávio Gikovate não tem um divã. Quando um paciente chega ao consultório dele, num dos endereços mais caros de São Paulo (a Rua Estados Unidos, nos Jardins), encontra primeiro uma fachada de cimento queimado com portas altas de correr. Depois, pode tomar café na recepção térrea, entre um jardim interno envidraçado e telas coloridas de Claudio Tozzi. Na hora da consulta, sobe por uma escada sem paredes laterais até a sala do psiquiatra e se senta: ou num sofá, ou numa poltrona bem confortável de couro preto. Mas divã, como no nome de seu programa semanal na rádio CBN (No Divã do Gikovate), não tem. “Sempre trabalhei assim, prefiro olho no olho”, diz. Talvez seja o olho no olho, talvez seja o método da “psicoterapia breve” e a promessa de alta em seis meses – que faz com que ele atenda 200 pacientes por ano. Fato é que Gikovate se tornou o confidente de alguns dos empresários e executivos mais bem-sucedidos do país. Nesta conversa, ele fala sobre a gastança dos brasileiros ricos, a cabeça do bom líder e outros temas atuais, mas de um ponto de vista diferente. Ou você já tinha ouvido que a culpa do consumismo é da pílula anticoncepcional?

Dinheiro anda comprando mais felicidade ou infelicidade?
Esses dias uma moça me perguntou se era possível ser feliz sendo pobre. Estudos de Harvard mostram que se faltar dinheiro para o básico – saúde, comida – provavelmente o indivíduo não consegue ser feliz. Algum para o supérfluo também é importante. Agora, de um ponto para cima, ele pode atrapalhar bastante. O consumismo é muito mais fonte de infelicidade do que de felicidade. O prazer trazido é efêmero, uma bolha de sabão – e em seguida vem outro desejo. Ele gera vaidade, inveja, uma série de emoções que estão longe de qualquer tipo de felicidade. E tudo vira comparação. Outro estudo diz que um indivíduo que ganha US$ 40 mil numa comunidade em que a média é de US$ 30 mil é mais feliz do que se ganhar US$ 100 mil e a média for de US$ 120 mil.

A elite brasileira é consumista demais?
Comecei a trabalhar em 1967, vi a chegada da pílula [anticoncepcional] e a emancipação sexual dos anos 60. Na época, achava-se que essa liberdade iria ‘adoçar’ as pessoas. ‘Faça amor, não faça guerra.’ Mas sexo e amor são coisas diferentes. É triste ver que os ideólogos daquela revolução estavam totalmente errados, porque a emancipação sexual aumentou a rivalidade entre os homens e entre as mulheres, foi criado um clima de competição, atiçou tudo que tinha de ruim no ser humano. Foi um agravador terrível do consumismo. Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero.

Então o sexo é culpado pelo consumismo?
Desde o início, o erótico está acoplado ao consumismo. Nos anos 20, foi preciso introduzir novos produtos que não tinham a ver com necessidades, como o xampu. A ideia que tiveram foi acoplar um desejo natural a um desejo que se queria criar. Então botavam uma mulher gostosa para vender xampu. O consumismo sempre esteve relacionado ao erótico, não ao romântico. O romântico é o anticonsumismo. As boas relações amorosas levam as pessoas a uma tendência brutal ao menor consumismo. A verdadeira revolução, se vier, vai estar mais ligada ao amor do que ao sexo.


PAPO CABEÇA
Ele elogiou o livro O Amor nos Tempos do Capitalismo, de Eva Illouz, e os filmes Rush, sobre Niki Lauda, e Blue Jasmine, de Woody Allen


Quais são outras fontes de angústia dessa elite que você atende?
Só para explicar: sempre fui bem [na carreira], faz pelo menos 30 anos que atendo algumas das pessoas mais bem-postas do país. Outro trabalho que sempre fiz foi por meio da mídia, em jornais, revistas e, há seis anos e meio, na CBN. É outra forma de ajudar as pessoas. Então tem dois mundos que eu atendo, o dos ricos e o do povo. E as diferenças são pequenas. São conflitos sentimentais, mais do que sexuais. Problema de família, briga de irmãos. Empresários têm muitos problemas de sucessão. O pai tem dificuldade de soltar a rédea e o filho tem a frustração de estar com 40 anos e não ter assumido os negócios. Outras vezes são problemas de ordem financeira, mesmo. O cara está indo mal, fica angustiado, tem os problemas familiares que derivam disso. Tem as tensões societárias… Empresa é complicado, quando vai bem tem problema, quando vai mal tem problema.

Por que trabalhar, no mundo moderno, é quase sempre tão estressante?
Estresse significa uma reação física para enfrentar situações de ameaça, portanto, quando o ser humano vivia na selva também tinha estresse. O estresse vem da ameaça, então numa empresa em que você é cobrado o tempo todo, vive com medo de ser demitido, você cria um clima muito mais grave de ameaça que o necessário. Estresse é ameaça. Sobrecarga cansa, mas não estressa.

Você às vezes se sente estressado?
Cansado. É diferente. Mas às vezes fico um pouco acelerado no pensamento, o que eu não gosto, porque empobrece a reflexão. Tenho a sensação de que o tempo ficou curto, de estar sempre devendo alguma coisa. Você se sente sempre em falta com um livro que não leu, um filme que não viu. Quando eu era moço, tinha cinco ou seis filmes importantes por ano para ver. Hoje, tem cinco filmes por mês. E bons!

Qual é uma boa válvula de escape desse mundo acelerado?
Um pouco mais de folga de horários, mais tempo para algum tipo de relaxamento. As prescrições passam por exercício físico, ioga e meditação – porque esvaziar a cabeça é certamente um grande redutor de ansiedade. Passam também pelo uso de medicação. Mas tudo isso são atenuadores. Se o trabalho fosse um pouco menos competitivo, seria possível abrir mão desses remédios.

Como um bom líder pode ajudar a reduzir as tensões no trabalho?
O bom líder é respeitado naturalmente, não por meio do medo. As pessoas reconhecem que ele está apto para o cargo e o exerce da forma mais democrática possível. Ou seja, antes de tomar uma decisão, consulta quem trabalha com ele, o que não significa terceirizar a decisão. O voto final é do líder, mas não sem ouvir todo mundo. A governança não pode se dar por atos irracionais, pelo humor do patrão. Deve se dar por normas que todo mundo conhece. Uma das maiores causas de estresse é ter um patrão cujo humor vai influir na forma como ele gere a empresa. Por isso a governança corporativa é importante, porque é um conjunto de normas que vai valer todo dia.

Você costuma ouvir: “meu chefe não me escuta”?
Todo mundo tem esse defeito [de não escutar]. O pai com o filho, o chefe com o subordinado… No caso do chefe, é mais comum porque chefe acha que sabe mais por definição, o que é uma grande bobagem. Um filósofo disse: humildade é a capacidade de aprender com quem sabe menos do que você. Ouvir alguém de verdade é estar disposto a abrir mão da sua ideia em favor da outra, se a outra for melhor que a sua. Boa ideia não tem dono. Toda boa ideia que eu ouço vira minha – e eu jogo fora minha velha ideia.

Que mudanças devemos ver daqui para a frente, em termos de comportamento?
As grandes transformações estão ligadas à mudança no papel da mulher. Na minha turma de faculdade, havia 78 homens e duas mulheres. Hoje, as faculdades têm em média 60% de mulheres. É porque os homens estão mais folgados e as mulheres, mais guerreiras. Mas isso vai dar numa série de desequilíbrios. Não sei se as mulheres vão gostar de sustentar os homens, nem se os homens vão gostar de ser sustentados. No ambiente de trabalho não tem problema nenhum, ao contrário, muitos empresários acham que as mulheres trabalham melhor. Mas em casa vai dar problema. Como faz para ter filho? Quem vai cuidar? Como vai terminar isso, ninguém sabe. A verificar. Mas não pense que é uma variável desprezível. A independência econômica da mulher desequilibra pra caramba o mundo.

Além do consultório, o senhor também foi bem-sucedido para vender livros?
Não tenho do que reclamar. Desde 1975, publiquei 32 livros e vendi mais de 1 milhão de cópias.

Qual o melhor?
Não sei. Minha mulher diz que é O Mal, o Bem e mais Além. É difícil falar. Gosto sempre dos mais recentes, mas no fundo são a reescritura daquilo que fiz nos anos 70 e 80.

E quando as pessoas muito ricas são felizes, o que costuma levar a isso?  
Os executivos que se sentem realizados são aqueles que gostam do que fazem. Às vezes, ficam até viciados. Mas a maior felicidade das pessoas ainda é quando conseguem estabelecer vínculos amorosos de qualidade. Tanto faz ser executivo ou não. É o que tem de mais importante. Gostar do que se faz e ter uma boa parceria sentimental talvez sejam as duas principais fontes de felicidade nesse nosso mundo.

01/05/2015 Posted by | Entrevistas | Deixe um comentário

As mulheres não se compreendem

doveNasci na Antuérpia, mas tive a sorte de vir pequena para o Brasil, crescer aqui e adotar a cidadania brasileira. Fiz mestrado e doutorado em psicanálise na PUC-Rio e dei aulas na Uerj por 26 anos. Pensar na relação com a minha mãe e a minha filha me fez ver a importância de saber se posicionar nessa relação.

Por que se diz que é tão difícil compreender as mulheres e não os homens? A mulher tem uma formação psíquica muito mais complicada. A maneira de ela deixar de ser menina e se tornar mulher tem características específicas. Há um desencanto dos homens por não compreenderem as mulheres, mas a grande questão é que as mulheres é que não se compreendem.

Quais são essas características específicas na passagem da menina para a mulher?

Na minha experiência profissional, vi que o papel da mãe tinha um valor enorme, que regia a vida da filha. As mulheres vivem essa situação de forma intensa e muito dramática, às vezes. Nos anos idílicos, quando a menina tem 10, 11 anos e vive grudada na mãe, as duas falam a mesma língua, que é a língua da mãe. Isso dá a ela um poder enorme sobre a filha.

A filha também demanda a mãe nesse período, não?

A filha fica colada na mãe porque é a mãe que mostra para ela o que é ser mulher. Só que nem sempre a mãe entende isso e fica dizendo: “Minha filha me ama”. Como toda mulher quer sempre ser amada, a mãe tenta manter essa língua de amor com a filha, sem perceber que a menina precisa encontrar a sua própria fala, que é o que acontece na adolescência. Se a mãe entrar com muito poder nos anos idílicos, esse processo é interrompido.

Mas essa libertação da filha em relação à mãe é possível?

É muito possível, mas é preciso fazer uma construção que muitas vezes a mulher acha que não é capaz. Essa construção é que vai formar a mulher. Muitas vezes digo no consultório: “você não é mais aquela menininha”. E as pacientes tomam um susto. O ideal é a gente mudar o discurso da mãe, porque muitas mães não querem se libertar e não deixam a filha se libertar. O amor exagerado sufoca qualquer filho ou filha.

O que acontece se mãe e filha não se separam?

Dificulta muito a vida da filha. A mãe que consegue se separar eu chamo de heroica. Porque todas têm vontade de sair correndo atrás da filha. Eu tenho vontade até hoje. É preciso perceber quando a filha realmente precisa de você. Quanto mais a filha se distingue da mãe, mais próxima como mulher ela pode ficar. Esse é um esforço que, se a mãe ajudar a filha a se libertar, haverá uma eterna gratidão. Caso contrário, há uma mágoa.

De que forma a relação entre a mãe e o filho homem é diferente?

A relação é diferente, o próprio corpo já impõe uma distância. Quando ocorre a entrada do pai, o que chamamos de constituição do Édipo, que separa o filho e a filha da mãe, o menino vira para a mãe e fala: “Adeus, mamãe, a minha identificação não depende de você”. Ele continua amando a mãe, não precisa dela da mesma forma que a menina.

É possível que o homem entenda a mulher?

Acho que não. Ele pode entender melhor muitos aspectos pelos quais a mulher passou, mas há algo misterioso na constituição feminina. É o encanto da mulher. Não é isso que vai atrapalhar a relação.

O que atrapalha a relação?

O que ela pode compreender e não compreende, como a relação complicada com a mãe e a construção da sua feminilidade. Se ela compreender isso, vai trazer menos problemas para a relação com o homem.

Por Malvine Zalcberg, psicanalista

11/02/2015 Posted by | Autoconhecimento, Entrevistas | Deixe um comentário

Dr. Miguel Srougi

Miguel SrougiEntrevista com o Dr. Miguel Srougi, considerado o maior urologista do Brasil.

O urologista, que cuida da saúde do “PIB” brasileiro, fala sobre os principais temores masculinos, como problemas na próstata, disfunções sexuais e decadência física. Não tem nem o que questionar: quando se fala em urologia, e principalmente em saúde masculina, primeiro nome da agenda e da confiança dos principais políticos, empresários e brasileiros em geral é o do médico Miguel Srougi. Considerado o número 1 do Brasil em Cirurgias de câncer de próstata ( já realizou 2.900), atendeu em seu consultório gente como o presidente Lula, José Alencar, José Serra , Geraldo Alckmin, Joseph Safra, Lázaro Brandão, Abílio Diniz e Antônio Ermírio de Moraes, entre outros pesos pesados.
Professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, pós-graduado pela Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos, 35 anos de carreira, uma dezena de livros publicados e outra centena de artigos espalhados mundo afora, Srougi tem a simplicidade daqueles que muito sabem, pouco ostentam e continuam lutando.
Ele se dedica integralmente ao que faz – trabalha todos os dias, das 7 da manhã às 10 da noite -, abriu mão da vida pessoal – é casado, pai de dois filhos – e não tem receio de dizer que se envolve demais com seus pacientes. “Sofro muito e esse sofrimento é um dos fatores de sucesso da minha carreira, porque acabo me entregando mais aos doentes.” Embora viva intensamente entre os limites das dores da perda e alegrias dos resgates da vida, Srougi, aos 60 anos, se abastece lecionando na Faculdade de Medicina, “uma de minhas razões existenciais”.
No ano passado inaugurou um moderno centro de ensino e pesquisa para seus alunos, garimpando verbas junto aos seus pacientes poderosos. A sala ganhou o nome de Vicky Safra, mulher de Joseph Safra – em homenagem ao banqueiro que doou a maior parte dos recursos. Nesta entrevista, o maior especialista em câncer de próstata do país afirma que “todo homem nasce programado para ter a doença” e que, se viver até os 100 anos, inevitavelmente vai contraí-la.
Fala ainda sobre medos, fantasmas masculinos, impotência, novos tratamentos e seus sonhos pessoais. E conta por que trocou o Hospital Sírio-Libanês pelo Oswaldo Cruz depois de 30 anos. A seguir, os principais trechos.

Assombros Masculinos

Os homens têm uma certa sensação de invulnerabilidade – isso faz parte da cabeça deles. Passam boa parte da sua vida livre de todos os incômodos que a mulher tem, fazendo com que relaxem mais com a sua saúde. Com o passar dos anos, começam a perceber a sua vulnerabilidade e passam a dar um pouco mais de valor aos cuidados médicos.
O que mais os atemoriza hoje? Problemas com a próstata, disfunções sexuais e a decadência física, que mexe muito com a cabeça das mulheres, mas também com a deles. As mulheres pautam muito a vida em função da beleza e os homens, da força, da virilidade, da capacidade de agir, raciocinar.
E na hora em que surgem falhas nessas áreas, ele percebe que, talvez, não seja aquele ser imortal que achava que fosse.

Envelhecimento

Há dois profundos temores hoje nos homens: o primeiro é o crescimento benigno da próstata, um fenômeno que ocorre em praticamente todos eles: ela aumenta de tamanho depois dos 40 anos e, dessa forma, o canal da uretra fica ocluído.
Isso faz com que o homem comece a urinar sucessivas vezes, a não ficar em uma reunião prolongada, tem de levantar à noite, prejudica o sono, acorda mal, pode ter descontroles de urina.
O crescimento benigno é quase inexorável: todos os homens vão ter em maior ou menor grau – felizmente, apenas um terço, 30%, tem sintomas mais significativos que exigem apoio médico.
Nesses casos, há medicações que desobstruem parcialmente a uretra e fazem o indivíduo urinar e viver melhor; apenas de 4% a 5% dos homens têm de fazer uma cirurgia para desobstruir a uretra por causa desse crescimento benigno.
Essa é uma cirurgia, que se faz com segurança e sem os inconvenientes de uma cirurgia maior nos casos de câncer. Ela remove apenas o fator obstrutivo, o homem passa a viver melhor e sem nenhuma seqüela. Esse crescimento não tem causa conhecida, surge por um desequilíbrio hormonal no homem maduro, ou seja, as células da próstata passam a se proliferar em decorrência dos hormônios. Não tem como prevenir. Existem algumas medidas, mas nenhuma consistente.

Obesos e Fumantes

Existe a idéia de que o obeso e os fumantes teriam menos crescimento benigno da próstata. O que é interessante é que a próstata seria o único lugar no organismo que eles deixam de ter todas as desvantagens, mas a realidade é meio dura: recentemente se apurou que eles são menos operados da próstata, mas não porque ela não cresce, mas pelo receio dos médicos de operá-los porque complicam mais e também porque muitas vezes não vivem o suficiente para ser operados – morrem antes. É uma realidade perversa.

Realidade nua e crua

O câncer na próstata adquire maior relevância porque tem uma grande prevalência: 18% dos homens – um em cada seis – manifestarão a doença. E também porque o tumor, que ocorre com muita freqüência dentro da próstata, é eliminado com sucesso em 80%, 90% dos homens. Se esse tumor não é identificado no momento certo e se expande, saindo fora da próstata, as chances de cura caem para 30%.
É um tumor muito comum e se for detectado a tempo, tem como resgatar esse paciente.
Dos 18%, somente 3% morrem – a medicina consegue curar 15% dos homens,ou seja, a maioria. Mas vale dizer que todo homem nasce programado para ter câncer de próstata.
Ou seja, nós temos, nas nossas células, genes que as estimulam a virar cancerosas e eles ficam bloqueados durante a nossa existência.
Quando o indivíduo envelhece, esses mecanismos de bloqueio deixam de exercer o seu papel e o câncer começa a se manifestar. Com isso vai aumentando a freqüência da doença e todo homem que chegar aos 100 anos vai ter câncer de próstata.

Sem fantasia

O exame de toque – um dos meios de se detectar a doença – gera na cabeça dos homens fantasias negativas e receios, mas, na verdade, eles tem muito medo da dor. Tanto é que os que fazem pela primeira vez, no ano seguinte perdem o medo. Leva três ou quatro segundos e não dói. Então, um dos fatores de resistência é eliminado. Existe um segundo sentimento, que é muito forte: expressar, exteriorizar uma fraqueza se a doença for descoberta.
O homem tem pavor disso porque, de acordo com todas as idéias evolucionistas, só vão sobreviver aqueles que forem fortes. É comum você descobrir um câncer no indivíduo, e ele entrar em pânico, não pela doença, mas porque as pessoas vão descobri-la. Porque o câncer é muito relacionado com morte, decadência física, perda da independência, dependência dos outros. O homem não aceita essa idéia, e prefere fechar os olhos e enfiar a cabeça debaixo da terra a enfrentar, mostrando para o mundo e às pessoas que ele é um ser mais fraco.
Isso vai afetar a imagem dele, acha que vai perder poder sobre outras pessoas, porque ninguém obedece a um fraco, alguém que vai morrer.
Isso vai contra a idéia que temos de ser mais fortes para sobreviver.

A performance do robô

Estamos fazendo cirurgias com robô, que permite uma visão muito mais precisa do campo cirúrgico, elimina os tremores da mão do cirurgião, permite incisões pequenas, uma operação muito mais perfeita porque os movimentos dele são muito suaves. Isso é muito novo no Brasil. Fiz o primeiro caso há dois meses, no Sírio-Libanês. E agora, o Albert Einstein tem e o Oswaldo Cruz está adquirindo.
Nos Estados Unidos se faz cirurgia robótica em larga escala. Lá, o robô ganha em performance do cirurgião médio, mas ele ainda perde do habilitado.
Tenho mais de 2.900 pacientes operados de câncer de próstata pessoalmente. Eu sou o terceiro cirurgião do mundo nesse quesito – só perco para dois americanos e eles estão parando de trabalhar. Apesar de ter essa grande experiência, quando comecei a operar, 35% ficavam com incontinência urinária grave. Agora são só 3%. Impotentes, todos também ficavam. Hoje, se o homem tem menos de 55 anos, a incidência é de 20% – antes era 100%.
Há também enxertos de nervos, porque a impotência se deve à remoção de dois nervos que passam perto da próstata e nós estamos fazendo esse enxerto quando somos obrigados a retirá-los nos casos em que o tumor fica grudado.
Entre os pacientes que fizeram os enxertos, metade voltou a ter ereções com o tempo.

Impotência, O que fazer?

Esses novos remédios para tratar a disfunção sexual contornam 1/3 da impotência, tanto após a cirurgia quanto depois da radioterapia. Se os comprimidos não atuarem, existem injeções.
Há ainda próteses penianas que são muito desenvolvidas e produzem uma ereção que quase não tem nenhuma diferença em relação à normal.
Isso permite que o homem reassuma a vida sexual plenamente e que as mulheres tenham muita satisfação. Os homens ficam extremamente felizes – são hastes colocadas dentro do pênis. Não fica marca, nem cicatriz.
Nos Estados Unidos, entrevistaram as mulheres sobre os homens que tinham prótese e as respostas foram positivas. Ela funciona muito bem.

O papel das mulheres

Os homens são resistentes: eles relutam muito em ir ao médico fazer um exame de próstata e só vão quando a mulher os empurra: dois terços dos pacientes no consultório de Miguel Srougi são trazidos por elas.
“Ligam para marcar a consulta, os acompanham.
A gente não vê mulheres jovens trazendo homens jovens para fazer exames. A gente vê mulheres maduras. Claro que o jovem não está na faixa de risco. Mas existe um outro significado da importância da mulher.
Primeiro, que ela é pragmática e incentiva o marido. “Mas, por que ela quer isso? “Porque quem ficou vivendo bem 30 anos e conseguiu superar todos os embates da vida conjugal é um casal que o tempo consolidou. E aí a mulher tem um sentido de preservação da família muito mais forte que o do homem. Passadas as tempestades e oscilações do relacionamento, ela não quer que o marido morra.
É real. Toda vez que tenho um paciente e ofereço dois tratamentos: um que aumente a existência dele, mas vai, por exemplo, causar alguma deficiência na área sexual.
E ofereço um outro tratamento, que cura menos, mas preserva melhor a parte sexual, o homem balança na decisão. A mulher nunca hesita. Ela prefere aquele que aumenta a existência, mesmo ocorrendo o risco de comprometer a vida sexual dele e do casal. Poucas vezes vi uma mulher aconselhar um tratamento que dê menos chance de vida e aumente a possibilidade de ele ficar potente. Dá para contar nos dedos. Ela quer o companheiro, quer preservar aquela pirâmide que foi construída, que é rica.”

Sofrimentos e Privilégios

Eu me envolvo muito com meus pacientes. Sofro muito. E esse sofrimento é um dos fatores do sucesso da minha carreira, de 35 anos. Nesse sofrimento eu acabo me entregando mais e mais aos doentes. Isso é ruim, porque não tenho vida pessoal, minha vida familiar é feita nos intervalos. Felizmente, os momentos bons prevalecem sobre os ruins. É por isso que eu sobrevivo. Um doente que coloca a cabeça no meu ombro e agradece por ter feito algo por ele, ou deixa correr uma lágrima na minha frente, me faz deletar, superar aqueles momentos em que me senti totalmente impotente.
Uma das coisas importantes é o médico saber e demonstrar que a medicina não é infalível e ele não se sentir onipotente. O urologista tem um privilégio. O oncologista mexe com câncer avançado, já no fim do caminho – eu lido com o inicial. Eu consigo salvar muita gente. É um privilégio para mim.

Medo da Separação

Nós não queremos morrer. Primeiro, pela incerteza do porvir. Segundo, porque a morte implica extinção e o ser humano não aceita a aniquilação. A nossa cabeça nasceu para ser imortal. A morte está relacionada com dor, sofrimento, à decadência física, à desfiguração, à perda do papel social, desamparo da família, perdas dos prazeres materiais, da independência. Mas a causa verdadeira é o nosso horror de nos separar das pessoas que amamos. Bem material não deixa ninguém feliz.
Há tanta gente rica se suicidando, tomando droga para sair da realidade. Os médicos não compreendem isso. Se as pessoas têm medo de se afastar das pessoas do seu entorno, você precisa tratar o entorno também. Não é o médico que apóia o doente nas fases difíceis – é a família.
Eles reagem raivosamente contra a família, querem afastá-la do processo, sem perceber que um doente só vai ter paz, tendo a morte pela frente ou não, se a família estiver ao lado.

A saída do Hospital Sírio-Libanês

Os verdadeiros templos na Terra são os hospitais – não as igrejas. Nas igrejas tem muito ouro, riqueza. Aqui não, você conhece o sofrimento, o valor da existência humana. Os orgulhosos e os soberbos ficam humildes, ricos e pobres são iguais; os ruins, os autoritários e os maldosos se tornam condescendentes: eles ficam despidos, tiram a máscara; é aqui que você conhece o que é viver, que resgata para a vida, não em uma igreja qualquer, que o sujeito entra lá, reza dez minutos e sai. Ele pode até sarar, cicatrizar a sua alma.
Mas aqui nós curamos a alma e o corpo. Esse é o verdadeiro templo, onde o ouro é a vida. Você entende o impacto que a desigualdade social tem sobre o ser humano, a pobreza, a falta de instrução causa doenças.
Depois de 30 anos no Sirio-Libanês eu mudei para o Oswaldo Cruz.
Achar que eu vou ter novas salas, três enfermeiras a mais, é brutalizar o que passou pela minha cabeça. Mudei porque não estava vendo esse lugar como um templo. Eu vivo intensamente, por isso tenho esses sentimentos.

Um pouco de filosofia

A melhor forma de se transmitir as virtudes é pelo exemplo, pela coerência.
Certa vez perguntaram para Sócrates como a virtude poderia ser transmitida – se pelas palavras ou conquistada pela prática. Ele não soube responder. Então, Aristóteles, depois de uns anos, respondeu: “A virtude só pode ser transmitida pela prática e por meio do exemplo”. Aqui, eu posso tentar ser o exemplo. Mudando o cotidiano das pessoas, transformando a sociedade e construindo um novo mundo.

Cinco medidas preventivas

Segundo Miguel Srougi, a prevenção ao câncer de próstata é feita de forma um pouco precária, porque não existem soluções para impedi-lo.

Na prática, há o licopeno, que é o pigmento que dá cor ao tomate, à melancia e à goiaba vermelha. “Talvez diminua em 30% a chance, mas esse dado é controvertido, por causa disso a gente incentiva os homens a comerem muito tomate, só que deve ser ingerido pós-fervura, ou seja, precisa ser molho de tomate. Não pode ser seco ou cru.”
A vitamina E também reduz teoricamente os riscos em 30%, 40%. Mas, se for ingerida em grandes quantidades, produz problemas cardiovasculares. Na verdade, se o homem quiser se proteger, deve tomar uma cápsula de vitamina E por dia. Acima disso, não é recomendável.
O terceiro elemento é o Selênio, um mineral que existe na natureza e é importante para manter a estabilidade das células, impedindo que elas se degenerem, que é encontrado em grande quantidade na castanha-do-Pará.
“Qualquer homem pode ingerir em cápsulas, mas se ele comer duas castanhas por dia, recebe uma certa proteção”, diz o especialista.
Uma quarta medida é comer peixe, três porções por semana – rico em ômega3 e tem uma ação anticancerígena provável.
E, uma quinta, tomar sol. “O homem que toma muito sol sintetiza na pele vitamina D, que tem forte ação anticancerígena. É por isso que os homens da Califórnia desenvolvem muito menos a doença do que os de Boston”, afirma Srougi.

Dr. Miguel Srougi

Interview with Dr. Michael Srougi, considered the greatest urologist Brazil.

The urologist who cares for the health of the “GDP” Brazilian talks about the main male fears, such as prostate problems, sexual dysfunction and physical decay. Has neither to question: when speaking in urology, especially in men’s health, first name of the schedule and the confidence of leading politicians, businessmen and Brazilians in general is the doctor’s Miguel Srougi. Considered the No. 1 Brazil in prostate cancer surgeries (already held 2,900), we met in his office as President Lula, José Alencar, José Serra, Alckmin, Joseph Safra, Lázaro Brandão, Abilio Diniz and Antonio de Moraes Ermírio among other heavyweights.
Professor of Urology, Faculty of Medicine, USP, graduate degree from Harvard Medical School in Boston, U.S., 35-year career, a dozen published books and hundreds of other items scattered around the world, has the simplicity of those Srougi we know very little bearing and continue fighting.
He is fully dedicated to what he does – works every day from 7 am to 10 pm – gave up personal life – is married with two children – and not afraid to say that it involves too much with their patients . “I suffer a lot and this suffering is one of the success factors of my career, because I end up delivering more for patients.” Although the boundaries between live intensely the pain of loss and redemption joys of life, Srougi, age 60, filling up teaching at the Faculty of Medicine, “one of my existential reasons.”
Last year inaugurated a modern center of education and research to its students, panning funds along to their patients powerful. The room was named Vicky Safra, wife of Joseph Safra – in honor of the banker who donated most of the resources. In this interview, the largest specialist prostate cancer in the country said that “every man is born programmed to have the disease,” and that is to live to 100 years, contracting it inevitably will.
Still talks about fears, ghosts male impotence new treatments and personal dreams. And why has swapped the Syrian-Lebanese Hospital by Oswaldo Cruz after 30 years. The following are key excerpts.

Amazements Men

Men have a certain sense of invulnerability – this is part of their heads. Spend much of your life free from all the hassles that women have, causing them to relax more with your health. Over the years, they begin to realize their vulnerability and start to give a little more value to healthcare.
What most frightens today? Problems with the prostate, sexual dysfunction and physical decay, that messes with your head a lot of women, but also with them. Women guided very life of beauty and function in men, strength, virility, ability to act, think.
And at the time that faults arise in these areas, he realizes that maybe he is not immortal being who thought it was.

Aging

There are two deep fears today in men: the first is the benign prostate growth, a phenomenon that occurs in almost all of them: it increases in size after 40 years and thus the urethral canal is occluded.
This makes the man begins to urinate successive times, not to get into a protracted meeting, has to raise at night, impairs sleep, wakes up ill, may have descontroles urine.
The benign growth is almost inevitable: that all men will have a greater or lesser degree – fortunately, only a third, 30% have significant symptoms that require medical support.
In these cases, there are medications that partially unblock the urethra and cause urination and individuals live better, only 4% to 5% of men have to have surgery to unblock the urethra because of this benign growth.
This is a surgery that is done safely and without the disadvantages of major surgery in cancer. It only removes the obstructing factor, the man begins to live better and without any sequelae. This growth has no known cause, arises by a hormonal imbalance in the mature, ie, prostate cells begin to proliferate due to the hormones. There is no way to prevent. There are some measures, but no consistent.

Obese and Smokers

There is the idea that the obese and smokers would be less benign prostate growth. What is interesting is that the prostate is the only place in the body that they no longer have all the disadvantages, but the reality is kinda hard: recently it was found that they are less prostate surgery, but not because she does not grow, but at fear of doctors to operate them because most complicated and also because they often do not live long enough to be operated – die before. It is a perverse reality.

Raw reality

The prostate cancer becomes more relevant because it has a high prevalence: 18% of men – one in six – manifest the disease. And also because the tumor, which occurs very frequently in the prostate, is successfully eliminated by 80%, 90% of men. If the tumor is not identified at the right time and expands, leaving outside the prostate, cure rates drop to 30%.
It is a very common tumor and if it is detected in time, is to rescue that patient.
18%, only 3% die – the medicine can cure 15% of men, or most. But it is to say that every man is born programmed to get prostate cancer.
Ie, we have, in our cells, genes that stimulate turn cancerous and they are blocked during our existence.
When the individual gets older, these locking mechanisms fail to exercise its role and cancer begins to manifest. With that increases the frequency of the disease and every man who reach 100 years will have prostate cancer.

No fantasy

Examination of cervix – a means of detecting the disease – creates in the minds of men negative fantasies and fears, but actually they are very afraid of pain. So much so that they do for the first time the following year lost the fear. It takes three or four seconds and does not hurt. Then a resistance factor is eliminated. There is a second sense, which is very strong: express, externalize a weakness if the disease is discovered.
The man is terrified of it because, according to all evolutionary ideas, will survive only those who are strong. Often you find a cancer in the individual, and he panicking, not the disease, but because people will discover it. Because cancer is closely related to death, physical decline, loss of independence, dependence on others. The man does not accept this idea, and prefers to close your eyes and stick your head under the ground to face, showing the world and the people that he is a being weaker.
This will affect the image of him thinks it will lose power over other people, because nobody obeys a weak, someone will die.
This goes against the idea that we have to be stronger to survive.

The performance of the robot

We are doing surgery with robot, which allows a much more precise surgical field, eliminates tremors of the surgeon’s hand, allows small incisions, an operation far more perfect because his movements are very smooth. This is very new in Brazil. I did the first case two months ago, the Syrian-Lebanese. And now, Albert Einstein and the Oswaldo Cruz has is acquiring.
In the United States becomes robotic surgery on a large scale. There, the robot gains in performance of the average surgeon, but he still misses the enabled.
I have over 2,900 patients undergoing prostate cancer personally. I am the third surgeon in the world in this regard – only to lose two Americans and they are stopping work. Despite having such a great experience when I started driving, 35% were severe urinary incontinence. Are now only 3%. Helpless, were all also. Today, if a man has less than 55 years, the incidence is 20% – 100% was before.
There is also nerve grafts, as impotence is due to the removal of two nerves that pass near the prostate and we are doing this graft when forced to remove them where the tumor is glued.
Among patients who had grafts, half again had erections with time.

Impotence, What to do?

These new drugs to treat sexual dysfunction skirt 1/3 of impotence, both after surgery and after the radiotherapy. If the pills do not act, there are injections.
There are even penile implants that are very developed and produce an erection that almost has no difference with the standard.
This allows the man to reassume full sex life and that women have a lot of satisfaction. Men are extremely happy – rods are placed inside the penis. It is not mark or scar.
In the United States, interviewed women about the men who had the prosthesis and the responses were positive. It works very well.

The role of women

The men are tough: they are very reluctant to go to the doctor do a prostate exam and only go when the woman pushes: two-thirds of patients in the office of Michael Srougi are brought by them.
“They call make an appointment, accompany them.
You do not see young women bringing young men to get tested. We see mature women. Clear that the young man is in the range of risk. But there is another meaning of the importance of women.
First, she is pragmatic and encourages her husband. “But why would she want that?” Because who was 30 years old and living well could overcome all the hardships of married life is a couple that time consolidated. And then the woman has a sense of family preservation much stronger than man. Past storms and oscillations of the relationship, she does not want her husband to die.
It’s real. Every time I have a patient and offer two treatments: one that increases his existence, but it will, for example, cause a deficiency in the sexual area.
And I offer another treatment that heals less but better preserves the sexual, the man shakes the decision. The woman never hesitates. She prefers that increasing the existence, even with the risk of compromising his sex life and marriage. I’ve rarely seen a woman advising a treatment that gives less chance of life and increase the possibility of it getting powerful. You can count on the fingers. She wants a companion, who want to preserve that pyramid was built, that is rich. ”

Sufferings and Privileges

I get involved much with my patients. I suffer a lot. And this suffering is one of the factors of success in my career of 35 years. I end this suffering delivering more and more patients. This is bad, because I have no personal life, my family life is done in intervals. Fortunately, the good times outweigh the bad. That’s why I survive. A patient puts his head on my shoulder and thanked for doing something for him, or let a tear run in front of me, make me delete overcome those moments where I felt totally helpless.
One of the important things is the doctor know and demonstrate that medicine is not infallible, and it does not feel omnipotent. A urologist is a privilege. The oncologist messes with advanced cancer, since the end of the road – I deal with the initial. I can save a lot of people. It is a privilege for me.

Fear of Separation

We do not want to die. First, the uncertainty of the future. Second, because death means extinction and the human being does not accept annihilation. Our heads were born to be immortal. The death is related to pain, suffering, physical decay, the disfigurement, loss of social role, family helplessness, loss of material pleasures of independence. But the real cause is our horror to separate us from the people we love. Well stuff leaves no one happy.
There are so many rich people committing suicide, taking drugs out of reality. The doctors do not understand this. If people are afraid to alienate people from their surroundings, you need to treat the environment as well. Not the doctor that supports the patient in difficult times – is family.
They react angrily against the family, want to keep her in the process, without realizing that a patient will only have peace with death ahead or not, if the family next door.

The output of the Syrian-Lebanese Hospital

The true churches on earth are hospitals – not the churches. In churches have much gold wealth. Not here, you know suffering, the value of human existence. The proud and the arrogant are low, rich and poor are equal, the bad, the authoritarian and evil become complacent: they get naked, take off the mask, it is here that you know what it is to live, that rescues for life not in any one church, the guy goes in there, pray ten minutes and leaves. He can even heal, heal your soul.
But here we heal the soul and the body. This is the true temple, where gold is life. Do you understand the impact that social inequality has on the human being, poverty, lack of education causes disease.
After 30 years at the Sirio-Lebanese I switched to the Oswaldo Cruz.
Think I’ll have new classrooms, three nurses more, is brutalizing what went through my head. I changed because I was not seeing this place as a temple. I live intensely, so I have these feelings.

A little philosophy

The best way to convey the virtues is by example, by consistency.
Socrates once asked for how virtue could be transmitted – whether by words or conquered by practice. He could not answer. So, Aristotle, after a few years, said: “The result can only be transmitted by practice and by example.” Here, I can try to be the example. Changing people’s daily lives, transforming society and building a new world.

Five preventive measures

According to Miguel Srougi the prevention of prostate cancer is made in a slightly precarious because there are no solutions to prevent it.

In practice, there is lycopene, which is the pigment that gives color to tomatoes, watermelon and guava with red. “Maybe 30% decrease in the chance, but this finding is controversial, because of this we encourage men to eat much tomato, only to be eaten after boiling, ie, to be tomato sauce. Could not be dried or raw. ”
Vitamin E also theoretically reduces the risk by 30%, 40%. However, if ingested in large quantities, produces cardiovascular problems. In fact, if man is to protect yourself, you should take one capsule of vitamin E per day. Above that, it is not recommended.
The third element is selenium, a mineral that exists in nature and it is important to maintain the stability of the cells, preventing them from degenerating, which is found in large quantities in Para-nut.
“Any man can ingest in capsules, but if he eat two nuts per day, receives some protection,” says the expert.
A fourth measure is to eat fish three servings per week – rich in Omega3 and has anticancer likely.
And a fifth, sunbathe. “The man who makes too much sun on the skin synthesizes vitamin D, which has strong anticancer.’s Why California men develop the disease much less than Boston,” says Srougi.

04/06/2013 Posted by | Entrevistas, Saúde | 2 Comentários

Cuidado com os burros motivados

Roberto ShinyashikiExcelente entrevista de Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, consultor, escritor e conferencista de renome nacional e internacional.

P: Quem são os heróis de verdade?

R: Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe.

O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura.

Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes.

E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.

Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa.

Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe.

O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.

Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.

São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

P: o senhor citaria exemplos?

R: Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia.

Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida.

Eles são os meus heróis.

Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem.

Acho lindo quando o Cafu (jogador) põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”.

É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes.

O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acontece hoje com 10% da população americana.

Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata?

Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

P: Qual o resultado disso?

R: Paranóia e depressão cada vez mais precoces.

O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim.

Aos nove ou dez anos a depressão aparece.

A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança.

Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos.

Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas.

Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

P: Por quê?

R: O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento.

É contratado o sujeito com mais marketing pessoal.

As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.

Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras.

Disse que ela não parecia demonstrar interesse.

Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa.

Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora.

Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

P: Há um script estabelecido?

R: Sim.

Quer ver uma pergunta estúpida feita por um Presidente de Multinacional no programa “O aprendiz”?

“Qual é o seu defeito?”

Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar”

É exatamente o que o chefe quer escutar.

Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido?

É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.

O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir”

Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

P: Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?

R: Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim, e não se preocupam com o conhecimento.

Muitas equipes precisam de motivação, mais o maior problema no Brasil é competência.

Cuidado com os burros motivados.

Há muita gente motivada fazendo besteira.

Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado.

Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.

Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não dar um caso para qual eu não estava preparado.

Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia.

O Brasil se tornou incompetente, e não acordou para isso.

P: Está sobrando auto-estima?

R: Falta às pessoas a verdadeira auto-estima.

Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa.

Antes, o ter conseguia substituir o ser.

O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom.

Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer.

As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.

E poucos são humildes para confessar que não sabem.

Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim.

Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

P: Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?

R: Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis.

Quem vai salvar o Brasil? O Lula.

Quem vai salvar o time? O técnico.

Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.

O problema é que eles não vão salvar nada!

Tive um professor de filosofia que dizia:

“Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a Rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham”

Pode parecer incrível, mas a Rainha Elizabeth também tem diarreia.

Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.

A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo o mundo o considera um fracassado.

P: O conceito muda quando a expectativa não se comprova?

R: Exatamente.

A gente não é super-herói nem superfracassado.

A gente acerta, erra, tem dias de alegria e de tristeza. Não há nada errado nisto.

Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram.

A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

P: Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?

R: Tenho minhas angústias e inseguranças.

Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente.

Há várias coisas que eu queria e não consegui.

Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos).

Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral, e hoje tem 25 anos.

Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.

Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo.

O resto foram apostas e erros.

Dia desses apostei edição de um livro que não deu certo.

Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

P: Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?

R: O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tenta evitá-las.

São três fraquezas:

A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança.

Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.

Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluo.

Elas ensinam tocar como Steve Vai, o B.B.King ou Keith Richards.

Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.

O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

P: Muitas pessoas têm buscado sonhos que não seus?

R: A sociedade quer definir o que é certo.

São três loucuras da sociedade:

A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais.

A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias

A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.

Não há um caminho único para fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.

Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.

Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes por causa do casamento.

Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema.

Quando era recém-formado em São Paulo trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.

Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte.

A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz”

Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada.

Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.

Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas im de esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.

E você?

– Roberto Shinyashiki

Beware of donkeys motivated

Excellent interview Roberto Shinyashiki, psychiatrist, consultant, writer and lecturer of national and international repute.

Q: Who are the real heroes?

A: Our society teaches that to be a successful person, you need to be director of a multinational company, having imported car, traveling first class.

The world defines that few people worked. This is crazy.

For each company director, there are thousands of employees who do not get to be managers.

And these people are treated as a crowd of losers.

When he looks at his life, most are not convinced that it was worth it because he could not have the car or the house wonderful.

For me, it is important that the son of the girl who works in my home mother can be proud of.

The world needs people more simple and transparent.

Real heroes are those who work to achieve their life projects, and not to impress others.

These are people who know how to apologize and admit they were wrong.

Q: do you cite examples?

A: When I was born, my mother was a maid and my father, orphaned at age seven, employed in a pharmacy.

We lived in a slum in Sao Vicente (SP) named Margarida Vila.

They are my heroes.

They managed to raise her four children, who are now well.

I beautiful when Cafu (player) puts a shirt on which is written “100% Garden Irene.”

It is unfortunate that most people hide their roots.

The result is a victim of the world depression, a disease that happens today with 10% of the U.S. population.

In countries like Japan, Sweden and Norway, there are more suicides than homicides. Why do so many people kill themselves?

Part of the blame lies in the appearances depression, which affects the woman, although most do not love her husband, keeps the marriage, or the man who spends decades in a job that does not feel accomplished, but it makes him feel safe.

Q: What is the result?

A: Paranoia and depression ever earlier.

The father wants his son to prepare for the future and put the boy in English classes, computer and Mandarin.

At nine or ten depression appears.

The only thing that prepares a child for the future is that she could be a child.

With the excuse of preparing them for the future, the crazy parents are robbing children of their childhood.

These children are adults and have unsafe hypocritical speeches.

Indeed, the hypocrisy now predominates in the corporate world.

Q: Why?

A: The corporate world has become a world of make-believe, starting with the recruitment process.

It hired the guy with more marketing staff.

The corporations value more self-esteem than competence.

I am president of People and Publisher interviewed a girl who answered all my questions with one or two words.

Said she did not seem interested.

She told me to be very interested, but he spoke little, he asked me to weigh her performance, not the conversation.

Especially because she was applying for a job in accounting, not public relations. Hired her on the spot.

In a classic case of selection, it would not pass the first stage.

Q: Is there a script set?

A: Yes.

Want to see a stupid question made by a President of the Multinational program “The Apprentice”?

“What is your fault?”

All respond that the defect is not to think in personal life: “I dive headlong into the company. I need to learn to relax ”

It is exactly what the boss wants to hear.

Why do you think anyone ever said being disorganized or forgetful?

It hired who is good at talking, in pretending. Likewise, in most cases, are promoted those who make the game of power.

The vice president of one of the largest companies in the world told me: “You know, Robert, no one comes to the vice presidency without lying”

That means that anyone who speaks the truth does not get to a director?

Q: We have a business model that rewards people ill-prepared?

A: It creates arrogant people who do not have the humility to prepare, who are unable to read a book to the end, and do not care about knowledge.

Many teams need motivation, plus the biggest problem in Brazil is competence.

Beware of donkeys motivated.

There are a lot of motivated people doing stupid things.

No use you assume a role for which it is prepared.

Surgeon and I pride myself on never a patient died in my hand.

But I have the humility to recognize that never happened thanks to my bosses, who were wise not to make a case for which I was unprepared.

Today, the kid out of college thinking they can do neurosurgery.

Brazil has become incompetent, and not agreed to that.

Q: You left self-esteem?

R: Lack people the true self-esteem.

If I need what others say I’m the best, my self esteem is low.

Before, having could be replace.

The rude guy gave a tip high to earn the respect of the waiter.

Today, as people can not be, or have not, the purpose of life became opinion.

People seem to know, seem to do, it seems they believe.

And few are humble to confess I do not know.

There are many lonely women in Brazil who prefer to say it’s better this way.

Although self-esteem is low, they pose that’s okay.

Q: Why do we let ourselves be carried away by this need to be perfect in everything and appreciate the look?

A: This comes from the emptiness we feel. We still valuing the heroes.

Who will save Brazil? The Lula.

Who will save the team? The technician.

Who will save my marriage? The therapist.

The problem is that they will not save anything!

I had a philosophy professor who said:

“When you want to understand the essence of the human being, imagine the Queen Elizabeth with a bout of diarrhea during a dinner at Buckingham Palace”

It may seem incredible, but Queen Elizabeth also has diarrhea.

She certainly has had toothache, has cried with sadness, because things did not work out.

We must stop looking superheroes. Because if the superhero unsecured wave, everyone considers him a failure.

Q: The concept changes when the expectation is not proven?

A: Exactly.

We is not no superhero superfracassado.

We hit, miss, there are days of joy and sadness. There’s nothing wrong with that.

Today, people are questioning the Lula partly because he believed that would change their lives and were disappointed.

The crisis will be positive if they understand that the responsibility for their own life is.

Q: Many people find it easy to say these things Shinyashiki Roberto as he is successful. You have defects?

A: I have my anxieties and insecurities.

But accepting them makes my life flow easily.

There are several things that I wanted and could not.

Play the Brazilian National Team, playing the Beatles (laughs).

My oldest son was born with a brain disease, and now has 25.

With a special child, and I learned that I love the way she is or will overwhelm it the rest of my life to be the son I want it.

When I look back, I see that 60% of the things I did worked.

The rest were betting and errors.

Bet someday publish a book that did not work.

A buddy asked me: “Who decided to publish this book?” I replied that I had been. It was my mistake. No need to lie.

Q: How can people get rid of this tyranny of appearance?

A: The first step is to think about things that make people yield to the tyranny and tries to avoid them.

There are three weaknesses:

The first need is applause, the second need is to feel loved and the third is to seek safety.

The Beatles were rejected by record labels and by no means given up.

Today, the error of the schools of music is to define the style of Aluo.

They teach how to play Steve Vai, BB King or the Keith Richards.

MBAs have the same problem: teach students to be covers of Bill Gates.

What schools should do is to help students develop their own potential.

Q: Many people have not sought their dreams?

A: The company wants to define what is right.

Three follies of society:

The first is to establish that everyone has to succeed, as if he had not individual meanings.

The second is madness: You have to be happy every day

The third is: You have to buy all you can. The result is that consumerism nonsense.

There is only one way to do things. The targets are interesting for success, but not to happiness.

Happiness is not a goal, but a state of mind.

Some people say they will not be happy until they marry, while others say they are unhappy because of marriage.

You can be happy eating ice cream, staying at home with family or true friends, leading children to play or going to the beach or the movies.

When I was newly formed in São Paulo worked in a hospital for terminally ill patients. Every day nine or ten patients died.

I always tried to talk to them at death.

Most grabs the doctor by the shirt and says, “Doctor, do not let me die. I sacrificed my whole life, now I want to enjoy it and be happy ”

I felt a huge pain for not being able to do anything.

There I learned that happiness is made of small things.

Nobody at death says repent for not having applied the money in real estate or stocks, but im waiting for a long time or lost several opportunities to enjoy life.

And you?

12/01/2013 Posted by | Entrevistas, Reflexões | Deixe um comentário