PrimeLife (Ano IX)

Viva Bem, Viva Mais, Viva com Estilo

Uma livraria para fast-books

No coração de Manhattan, no Columbus Circle, entre a Broadway e a 8ª Avenida, uma loja sui generis foi aberta na quinta-feira. É a primeira unidade nova-iorquina da empresa de comércio eletrônico Amazon.  O que a maior varejista digital do planeta, responsável pela quebra de milhares de lojas tradicionais e de livrarias, está fazendo com uma loja de tijolos?

A existência física da Amazon Books não é novidade nos Estados Unidos. Essa é a 7ª loja que a companhia abre com o propósito exclusivo de vender livros. Mais uma dúzia é esperada até o final do ano, incluindo uma segunda unidade em Manhattan. A expansão da Amazon na vida real parece estar no cerne da estratégia atual da companhia, que tem aberto não só livrarias, como também planeja um mercado em Seattle, o Amazon Go, onde será possível fazer compras sem passar no caixa — o lugar ainda está em fase beta, operando apenas para os funcionários. A empresa está presente até na casa das pessoas, com seus dispositivos que automatizam residências.

Considerada uma Meca da literatura e da indústria editorial, Nova York tem sua própria fixação por livros, com poetas nas ruas escrevendo em troca de dinheiro, grandes casas editoriais ou mesmo servindo de cenário para clássicos da literatura norte-americana. A Amazon Books dá um toque diferente a esse panorama. Na data da inauguração, a loja estava lotada, com os vendedores correndo para lá e pra cá, ensinando como funciona o conceito de livraria da Amazon, que tenta trazer as vantagens do varejo digital para o físico. Ao pé dos livros é possível ver a avaliação da obra (de 0 a 5 estrelas) com algum comentário de um leitor, publicado no site da Amazon e impresso diretamente para a nova loja — a crítica é, via de regra, elogiando o livro como uma peça de escrita “muito além do ordinário”.

O lugar não conta com um grande acervo de livros e nem se compara em tamanho a grandes livrarias. São cerca de 3.000 títulos, os melhores, mais bem avaliados — e, claro, mais vendidos — do site da Amazon. A mensagem que fica é “Quem precisaria de mais?”. Afinal, os que estiverem procurando por um título muito específico podem comprar em casa, na Amazon.com, e receber em até dois dias úteis como manda o protocolo. “Para consultar os preços você pode baixar o aplicativo da Amazon no seu celular e escanear tanto o código de barras quanto a capa do livro”, me explica um vendedor, que imediatamente é abordado por um rapaz de 20 e poucos anos interessado em um emprego no lugar.

De cara, já é possível ver uma seleta com os livros mais populares no site, bem como uma seção especial com os melhores livros para crianças. Lá, debaixo de uma forte luz branca, estão best-sellers indicados por jornais norte-americanos, livros sobre congressistas, como os democratas Elizabeth Warren ou Bernie Sanders, livros sobre campanhas políticas, sobre o atual eleitor americano, uma biografia do empresário Elon Musk, uma história do empreendedor americano. Ao lado, a, livro de Yuval Noah Harari, que pretende contar uma breve história do amanhã, é apresentado com uma bela indicação do ex-presidente Barack Obama. Bem diferente da tradicional livraria americana, onde os funcionários fazem as reviews em pequenas notas com letras miúdas. Assim como no site se você gostou de um, vai amar o que está ao lado.

Os livros de culinária são abundantes. E alguns objetos de cozinha, como espátulas e colheres de pau, também estão por lá. A oportunidade, neste caso, faz o consumidor. Ao contrário da típica livraria de shopping, que geralmente tenta imitar os ares das pequenas livrarias, escondidas nos centros da cidade, a Amazon Books se vende como aquilo que é: uma loja que vende livros, não exatamente uma livraria. Há somente livros em pequenas seções, um monte de gente intrigada pela presença física de quem antes era só digital, e toda a informação que você puder escanear no seu aplicativo da Amazon.

A loja não te convida a ficar mais do que o necessário. Na realidade, tudo é feito para que o leitor consiga sair de lá o mais rápido possível. Não há cadeiras, poltronas ou sofás; não há um café no canto, reservado para leituras despretensiosas; não há luzes mornas, próprias para folhear melhor as páginas. A bem da verdade, não há nem a possibilidade de se pagar em dinheiro: a Amazon Books só aceita pagamentos via cartão, ou então pelo próprio aplicativo, que gera um QR Code para o usuário com dados de pagamento já cadastrados no sistema. A versão fast-food do mercado literário com a versão vida real da função “compre com um click”.

Os preços são mais atraentes para os que são assinantes do Amazon Prime, assinatura de serviços digitais da companhia. Com 10,99 dólares por mês, o cliente recebe descontos camaradas, um prazo de entrega mais curto e tem acesso ao catálogo de vídeos da empresa. O Prime foi um dos grandes responsáveis pela expansão da Amazon nos últimos anos e gerou faturamento de 1,9 bilhão de dólares no primeiro trimestre do ano, um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na loja também podem ser encontrados os gadgets mais famosos da Amazon, como o automatizador de residências Echo, que vem com a assistente de voz Alexa.

A uma linha de metrô de distância, pequenas livrarias, como a Book Culture no Upper West Side, próxima da Universidade Columbia, ou a Bluestockings, próxima da Universidade de Nova York no Lower East Side, sobrevivem ante o avanço da gigante varejista. Ambas as livrarias investiram em publicações específicas, discussões de livros e eventos e títulos que vão dos mais famosos até os mais obscuros. “É estranho, eles falam sobre descoberta, mas como você descobre algo novo em um processo que canaliza as pessoas em um foco cada vez menor?”, afirmou ao jornal New York Times Chris Doeblin, dono da Book Culture. Na Bluestockings, seções de livros de ativismo político ou feminismo marcam a diferença desta joia que sobrevive na cidade com um fluxo de clientes bem mais reduzido do que a competidora.

Mas e por que lojas físicas, afinal? Quando muitos pensavam que o próximo passo da Amazon seria entregar livros diretamente pela janela usando drones, a Amazon caminha justamente na direção oposta. Antes de sair, escuto um homem perguntar ao vendedor: “Como funciona este lugar? Eu vejo os livros que quero e vocês vão entregá-los em dois dias na minha casa?”. Era irônico, mas a existência de uma livraria real, de tijolo e cimento, da maior varejista digital do mundo também é.

02/06/2017 Posted by | Literatura | Deixe um comentário

Voyeur

the_voyeurs_motel_by_gay_taleseDifícil não se deixar levar por um livro que começa assim: “Conheço um homem casado, com dois filhos, que comprou um motel de 21 quartos perto de Denver, há muitos anos, a fim de se tornar um voyeur-residente”.

Assim começa VOYEUR, a mova obra de Gay Talese, um escritor-personagem, um jornalista-escritor que sabe bem como enveredar por temas cabeludos e inusitados com as mais ferinas técnicas literárias.

A história por trás do livro começou quando Talese recebeu uma carta à mão, sem assinatura, na qual um sujeito explicava por que ele seria o nome ideal para narrar sua aventura. O autor da carta espionava sistematicamente seus hóspedes desde 1966, e gravava tudo o que via e ouvia.

Pena que Talese, hoje com 84 anos, muitos deles dedicados a reportagens que também são peças de literatura, como A MULHER DO PRÓXIMO, tenha apostado nessa fonte. Uma reportagem do Washington Post mostrou que muitas das peripécias relatadas no livro foram escritas depois que o proprietário já havia vendido o motel.

Mas nada disso tira o brilho de VOYEUR (no fim uma boa ficção) e do autor. Talese, sempre na estica, de chapéu, terno, colete e sapato bicolor (é filho de alfaiate), tem uma obra irrepreensível. Seus livros HONRA TEU PAI, O REINO E O PODER, VIDA DE ESCRITOR e FAMA e ANONIMATO desculpam um vacilo ou outro.

03/09/2016 Posted by | Literatura | Deixe um comentário

Ler

Ler prejudica gravemente a sua ignorância. 

23/04/2016 Posted by | Literatura | Deixe um comentário

A ciência comprova: poesia é mais eficaz que autoajuda

ASTA0001Ler poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool.

Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos de Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin e depois essas mesmas passagens traduzidas para a “linguagem coloquial”.

Os resultados da pesquisa mostraram que a atividade do cérebro “acelera” quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.

Os especialistas descobriram que a poesia é mais útil que os livros de autoajuda porque afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.

Os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.

 

18/12/2015 Posted by | Literatura, Poesia | Deixe um comentário

Amor de verdade se conserta, não se joga fora

de onde nasce o perdãoConsiderado o “Poderoso Chefão” dos sentimentos, todo mundo quer encontrar o grande amor. Mas, ao mesmo tempo, ninguém quer dividir tristezas e desilusões, sentir as incansáveis dores físicas, passar por torturas psicológias ou ficar noites sem dormir. Ninguém quer ter que aguentar o outro de mau humor, suportar as diferenças, compartilhar e ceder. As pessoas querem mesmo é viver apaixonadas, curtir aquele desejo e vontade de fazer sexo todas as noites, tomar sol em uma casa de veraneio na praia ao som dos pássaros cantando e viver o sonho da família Doriana. Por isso, os amores de hoje são tão descartáveis. A cada esquina se acha alguém para se apaixonar, mas ninguém para amar. Cadê as pessoas que estão dispostas a suportar, no dia a dia, as imperfeições e que estão afim a criar problemas e, depois, resolvê-los juntas?

Está tão clichê dizer eu te amo e fazer amor (que nem pode mais se chamar de amor), que andar de mãos dadas não reflete companheirismo e um elo, mas sim, só mais duas mãos e alguns passos, que podem seguir separados. O que mais me impressiona não é nem o fato do “felizes para sempre” estar quase que em extinção, mas a coragem que as pessoas têm de, quando não conseguirem fazer as coisas darem certo e enfrentarem dificuldades juntas, se consolarem com o simples “Não era pra ser…”. Porque afinal, a culpa toda é do destino.

Esses dias estava tentando resolver um cubo mágico e me irritei tão fácil que obviamente não cheguei nem na primeira lateral de cores. Fiquei pensando na quantidade de coisas na vida que deixamos passar por falta de força de vontade. Com o amor é assim. Não queremos unir o azul, o amarelo, o verde, o branco e o vermelho, queremos só o vermelho e pronto. Mas para tudo e todo tipo de amor, sejam entre homens e mulheres, amigos e familiares é preciso de uma união de cores, sentimentos e mais do que isso, paciência. Tudo precisa se encaixar no lugar certo. Só que nós precisamos fazer nossa parte para que isso aconteça. Tentar, quem sabe?

Muitas vezes nos contentamos em amar pela metade só porque achamos que felicidade é se manter apaixonado, sempre. Paixões são instantâneas. Isso vai e vem. São lindas, concordo, e fragmentos do amor, mas, meu caro, apesar de estourar fogos de artífico no seu estômago infelizmente não durarão por uma vida inteira. Não é só somando alegrias e momentos bonitos que se ama, é no meio da turbulência que se descobre o verdadeiro amor. Tem uma frase de Clarisse que eu adoro que diz o seguinte: “Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.” E acho que isso resume tudo. Paixão e carinho caminham juntos, mas para amar precisa-se de muito mais.

 

14/12/2015 Posted by | Literatura, Poesia | Deixe um comentário

Não existe justiça no amor

L035— Não confie na frase de sua avó, de sua mãe, de sua irmã de que um dia encontrará um homem que você merece. Não existe justiça no amor.

O amor não é censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo.

É o mais completo desequilíbrio. Ama-se logo quem a gente odiava, quem a gente provocava, quem a gente debochava. Exatamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação.

O amor não é democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prêmio de bom comportamento.

O melhor para você é o pior. Aquele que você escolhe infelizmente não tem química, não dura nem uma hora. O pior para você é o melhor. Aquele de quem você procura distância é que se aproxima e não larga sua boca.

Amor é engolir de volta os conselhos dados às amigas.

É viver em crise: ou por não merecer a companhia ou por não se merecer.

Amor é ironia. Largará tudo — profissão, cidade, família — e não será suficiente. Aceitará tudo — filhos problemáticos, horários quebrados, ex histérica — e não será suficiente.

Não se apaixonará pela pessoa ideal, mas por aquela que não conseguirá se separar. A convivência é apenas o fracasso da despedida. O beijo é apenas a incompetência do aceno.

Amar talvez seja surdez, um dos dois não foi embora, só isso; ele não ouviu o fora e ficou parado, besta, ouvindo seus olhos.

Amor é contravenção. Buscará um terrorista somente para você. Pedirá exclusividade, vida secreta, pacto de sangue, esconderijo no quarto. Apagará o mundo dele, terá inveja de suas velhas amizades, de suas novas amizades, cerceará o sujeito com perguntas, ameaçará o sujeito com gentilezas, reclamará por mais espaço quando ele já loteou o invisível.

Ninguém que ama percebe que exige demais; afirmará que ainda é pouco, afirmará que a cobrança é necessária. Deseja-se desculpa a qualquer momento, perdão a qualquer ruído.

Amar não tem igualdade, é populismo, é assistencialismo, é querer ser beneficiado acima de todos, é ser corrompido pela predileção, corroído pelo favoritismo. É não fazer outra coisa senão esperar algum mimo, algum abraço, algum sentido.

Amor não tem saída: reclama-se da rotina ou quando ele está diferente. É censura (Por que você falou aquilo?), é ditadura (Você não devia ter feito aquilo!). É discutir a noite inteira para corrigir uma palavra áspera, discutir metade da manhã até estacionar o silêncio.

Amor é uma injustiça, minha filha. Uma monstruosidade.

Você mentirá várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor.

Fabricio Carpinejar

21/11/2015 Posted by | Literatura, Poesia | Deixe um comentário